terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Registro de Viagem à Costa do Marfim: Relato IV - No Trabalho


Recomendo que leiam primeiramente o Relato I, o Relato II e o Relato III. Obrigado.

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Registro de Viagem: Costa do Marfim

Relato IV – No trabalho – 14 de Dezembro

Wilfred, o camaronense com quem irei trabalhar, passou aqui para me pegar. Fomos até “Prémiere Point”, aqui no bairro de Yopougon. De lá, pegamos um taxi até o distrito financeiro, que se chama Plateau. Lá fica a AFCO Sarl, empresa em que trabalharei até fevereiro. Engraçado que o táxi funciona meio que fora da lei. É assim: pelo taxímetro, ou seja, legalmente, nosso percurso ficaria o equivalente a €7. Do modo à margem da lei, o motorista cobra um preço fixo pra ir a um lugar específico em Abidjan e cada passageiro paga uma parte e o carro parte quando estiver cheio. Parecem as lotações clandestinas da Messejana, CE. O preço é de CFA 600 (francos africanos) por passageiro, que dá menos de €1. Assim, o taxista fatura seus CFA 2400 e nós pagamos cada um 1/6 do que pagaríamos normalmente. Outro ponto positivo é que eu posso fazer um social e treinar meu francês com os completos estranhos que completam o táxi comigo. É um ganha-ganha(-ganha)!

Relativamente ao trabalho, os marfinenses não se destacam tanto: fazem brasileiros parecerem japoneses. Como diria meu pai, a galera aqui “não quer ovo”, ou, complementando o raciocínio com mais filosofia de poltrona de minha família: “estão pedindo a Deus que o mundo se acabe” (outra do Filósofo Daniel, vulgo ‘pido’).

A empresa são dois andares. No de baixo, a recepção; no de cima, nós e o chefe. Do andar de cima, 25% é o banheiro (tem banheiro!), 60% é a sala do chefe e os 15% restantes são compostos do corredor e Wilfred, Leticia (da contabilidade) e eu tentado nos espremer. O chefe, que se chama Sr Happy Happy – não é piada – é camaronense, mas fez carreira como político na Costa do Marfim. Ele é um homem muito ocupado e preenche seu tempo com ócio criativo e não liga muito para minúcias como relacionamento com clientes, funcionários, moral no ambiente de trabalho e resultados no longo prazo. Para essas coisas “pequenas” existem eu e Wilfred.

Houve uma hora em que ele chamou a equipe de marketing (eu e Wilfred) no escritório e após uma breve e dispensável reunião, ele começou a nos contar sobre quando ele foi em missão oficial ao Brasil e fugiu de seus compromissos para freqüentar clubes noturnos e prostíbulos. Vendo que eu não achava a menor graça nisso, ele confundiu minha repulsa por falta de interesse e tentou aumentá-lo ao relatar suas aventuras pelos meretrícios de Abidjan. Acho que ele finalmente caiu em si e fechou a matraca. Ah, outra coisa, a internet havia caído na empresa durante o dia todo (menos no escritório dele!), eis o motivo de eu não haver postado nada hoje (segunda-feira), e pedi para usar a dele.

Fiz as pesquisas concernentes ao trabalho e salvei-as em meu pendrive. Quando retornei ao meu computador, o anti-virus acusou meu pendrive de ser uma incubadora e o AVG teve de apagar todos os meus arquivos, inclusive todas as fotos e vídeos que gravei até agora (isso mesmo). Voltei à sala do chefe e me dispus a fazer uma varredura em seu computador. Ele disse que tudo bem. Sentei-me e então descobri: não havia anti-virus nenhum! Olhei para aquele computador sem anti-virus como umesquimó enxergaria um naturista na Groenlândia e comecei a baixar o anti-virus.

Como se diz no Ceará, fiquei bestinha. A chance de achar um computador, qualquer que seja, sem um anti-virus é, creio, 1 em um milhão. A chance de achar uma empresa moderna sem internet é de 1 em um milhão também. Assim, hoje vi uma empresa que é uma verdadeira apoteose estatística: 1 em 1000000000000!!

Afora o trabalho, hoje fui à embaixada brasileira. A recepcionista era brasileira, mas falava português como uma marfinense e tinha a simpatia daquelas estereotipadas negras gordas de filme americano. Faltou só falar balançar o indicador no meu nariz ao falar, porque já falava pelo nariz e tinha aquela atitude. Que bom que conheci outras pessoas lá. Conheci um marfinense que falava um português perfeito (ele conhece a GV, pois fez faculdade na ESPM na década de 80) e me apresentou ao adido militar, o Sub-Tenente Geraldo. A informação que segue agora vai fazer o dia do papai: o subão é FE (forças especiais) e comanda um destacamento brasileiro em Abidjan de 7 soldados (todos FEs) e pegou todos os meus dados, onde moro etc. Ele disse que, no caso de uma evacuação ou coisa do tipo, nenhum brasileiro é deixada para trás. Ele disse também que ia mandar alguém fazer um reconhecimento do terreno de Yopougon para recolher inteligência. Senti-me muito, mas muito seguro. Fora isso, ele me deu o endereço dum restaurante brasileiro de um cara gente fina (fica ali no Plateau mesmo) e disse que me chamará pro próximo churras de brazucas em Abdijan! Outra coisa ainda, há missionários brasileiros aqui, principalmente da Igreja Universal do Reino de Deus. Pode? Haha

De volta à casa, tentei ligar de todas as formas para falar com minha família. Ninguém atendia na casa de minha namorada, a ligação para minha avó era muito ruim e pude falar alguns segundos com meus pais. Cabem aqui agradecimentos especiais à família maravilhosa que está me hospedando. Eles fizeram um auê pra eu poder ligar. Foram chamar gente não sei aonde que trabalha com não sei o quê de telefonia para que eu pudesse ligar. Que povo gentil! Quando eu fui tomar banho, meu irmão, Franc, pediu pra esperar porque ele ia lavar a salle de bain pra que eu pudesse tomar banho num ambiente limpinho. As crianças são uns amores. As mulheres sempre me perguntam como acaba a novela que elas estão vendo (novela brasileira é o maior sucesso, juntamente com a Talia) e me vaiam quando eu digo que não gosto de novela! Haha. Esse povo é uma comédia.

De qualquer forma, amanhã, se Deus quiser, terei contato com internet e poderei postar tudo isso, assim como também as fotos que eu tirar amanhã, ligar via skype e mandar e-mails.

Obrigado pelas orações. Abraços e fiquem com Deus.

“Si alors mon peuple, le peuple à qui j’ai donné mon nom, s’humilie et prie, si les Israélites me recherchent en renonçant à leur mauvaise conduit, moi, dans le ciel, je serai attentif, je pardonnerai leur péché et je rétablirai la prospérité de leur pays” – 2 Chroniques 7:14


6 comentários:

Julia Pestana disse...

Aposto que as crianças amaram suas lentes transitions!

Mari Hermanny disse...

oioi! Vc está se saindo um belo homem de campo, hein?
Nossa, fico feliz que apesar das condições, as pessoas se salvam e estão te ajudando!
Vou torcer pra tudo continuar melhorando!
Beijos

Sarinha! disse...

haihaiahi Essa empresa é uma comédia! Equipe de marketing são dois estagiários? heoaiheioaheioa
Nossa, tô tão feliz por ter essa família tão hospitaleira contigo!
Confesso que tô ainda com mais vontade de ir pra África!
Beijo da tua irmã que te ama de admira muito!
Firme, mano!

Ligia Cerqueira disse...

Te amo muito, lindo! To muito orgulhosa de vc. Não vejo a hora de estarmos juntos e eu poder participar das suas aventuras! =)

Natan Cerqueira disse...

Nao tardara esse dia, linda! Te amo!

Daniel e Gláucia disse...

Será que depois do seu primeiro mês de experiência a Saroca pensa do mesmo jeito?