quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

E o dólar?


Em recente conversa com um amigo de longa data, o assunto “dólar” veio à tona. Algumas dúvidas acerca do mercado permeavam sua cabeça e comprometi-me a escrever um texto passando a idéia geral do que causa as oscilações do dólar e suas conseqüências para a economia brasileira. Esse texto não é, de forma alguma, um tratado de economia; sendo apenas uma tentativa de passar de forma didática o que um amador em matéria de mercado cambial sabe para outro.

A cotação do real em relação ao dólar é quanto de real se necessita para comprar US$1. A cotação de qualquer moeda do mundo obedece à clássica lei da oferta e da procura. Se o mercado brasileiro tiver uma oferta maior do que a demanda – ou seja, se estivermos “inundados” de dólares – o “preço” do dólar em moeda nacional tenderá para baixo; se sua oferta for menor do que a demanda – ou seja, se estivermos com escassez de dólares – seu “preço” tende para cima. Dito isso, devemos, então, salientar os fatores que podem alterar a demanda e a oferta do dólar e suas conseqüências.

A cotação do dólar pode oscilar dependendo da quantidade dele presente no mercado doméstico ([1]excesso ou [2]escasso) e das ações do Banco Central do Brasil (BACEN), a saber: [3]o leilão de partes das reservas nacionais em dólares ou a [4]compra de dólares para abastecer as reservas nacionais.

[1] - Quando a confiança no Brasil aumenta e os estrangeiros decidem investir seu capital aqui, eles convertem a moeda de seu país de origem em dólar (se essa já não for sua moeda) e vêm para o Brasil. Como é ilegal comercializar no Brasil com moeda diferente do real, os estrangeiros convertem esses dólares para a nossa moeda. Aí entra a velha lei da oferta e da procura: se muitos estrangeiros estiverem querendo vender dólar e comprar real, o dólar tem seu caráter escasso reduzido e seu preço cai. Já o real tem uma procura muito forte e ele se valoriza. Mas o que isso significa para a economia como um todo? Devo celebrar a queda do dólar? Depende.

A cotação desfavorável ao dólar é excelente para quem tem interesses no exterior. Por exemplo, o jovem que quer fazer seu intercâmbio vai se beneficiar da queda do dólar. O homem de negócios que quiser importar maquinário do exterior também vai se regozijar. As importações ficam mais baratas nesse cenário.

Contudo, as exportações são prejudicadas. Por exemplo, se uma quantidade X de meu produto custa R$1 e US$1=R$3, um dólar compra três quantidades de meu produto. Se o dólar desvaloriza e ele passa a ter a cotação US$1=R$1,50, um dólar continua sendo um dólar, mas agora ele só compra metade do que comprava antes. Como as exportações são feitas nas casas das centenas de milhões de dólares, a rentabilidade de minha venda para o exterior cai bastante. Isso pode levar empresas a sérias dificuldades.

[2]- Caso a situação seja a oposta da acima e a confiança no Brasil se deteriore, os estrangeiros vão comprar dólares para mandar de volta a seus países de origem. Essa procura por dólares vai fazer a moeda americana ficar bastante escassa no Brasil, elevando bastante a sua cotação, afinal, o real passa a ser vista com desconfiança e o investidor tenta assegurar seu capital em moeda forte (escolha mais comum: dólar).

De modo análogo a [1], percebe-se que essa situação é extremamente desfavorável para quem pretende viajar ou já se encontra no exterior (afinal, precisarão de mais reais para comprar uma mesma quantia de dólares) e para os importadores, pois os preços dos importados ficarão mais caros em moeda nacional.

Já para as exportações, o cenário é bom justamente pela razão que é ruim para as importações: uma mesma quantia de dólares compra um montante maior de reais em produtos, aumentando as vendas.

[3]O BACEN, no entanto, pode tomar atitudes para contornar essas oscilações. Os motivos alegados, normalmente, são de “manter o equilíbrio”. Evidentemente, a razão é sempre de natureza política, apesar de ninguém nunca conhecer as verdadeiras motivações dessas atitudes e a quem especificamente tem-se em vista beneficiar.

Quando o dólar está com cotação alta, lança-se mão de recursos para valorizar o real artificialmente, desvalorizando, assim, o dólar. Comumente, o BACEN vale-se do leilão de parte de suas reservas em dólar para aumentar a quantidade da moeda americana disponível no mercado doméstico visando a reduzir sua escassez e, conseqüentemente, seu preço. Importadores ficam felizes.

[4]De forma análoga a [3], o BACEN lança mão de recursos para desvalorizar o real artificialmente. A artimanha preferida do BACEN é comprar dólares do mercado. Como a quantidade comprada pelo BACEN é muito alta, a demanda embuste por dólares é impulsionada, elevando seu preço frente ao real. Exportadores ficam felizes.
APANHADO GERAL:

As quatro situações acima mostram de forma breve e geral como o dólar oscila no Brasil e o que significa. Interessante notar que fatores externos também podem influenciar a cotação de moedas como guerra, desastres naturais, crises econômicas e ações do Federal Reserve, o banco central americano.

Vale também ressaltar que [1] e [2], situações determinadas pelo mercado, são as duas únicas que fornecem uma valorização ou desvalorização real da moeda brasileira, evidenciando de fato o seu grau de credibilidade. As situações [3] e [4] são manipulações que apresentam apenas valorizações ou desvalorizações artificiais e que se mostram tanto insustentáveis como ineficazes de atingir seu objetivo (seja valorizar o real ou desvalorizá-lo) ao longo do tempo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Natan, excelente explicação! Esse blog tem futuro!!!

Acho importante ainda ressaltar que o BC quando é um agente do mercado de câmbio é um ofertante de preços, ou seja, quando ele age ele altera o preço do mercado. Já todos os outros agentes, mesmo o mais poderoso fundo, não consegue individualmente alterar o preço do mercado, sendo então um tomador de preço.

Devido a isso o BC é um monopolista, e tenta definir a cotação do dolar para se beneficiar, e assim prejudicando o mercado - como ocorreu algumas vezes que as reservas caíram muito desde o plano real. Mas como você disse, é derrota certa lutar contra o sistema de preços.

Guilherme Inojosa disse...

Excelente!

Faço das palavras do Juliano as minhas.

Cássio Schumacher disse...

Muito boa explicação Natan, mas um tanto quanto "smithiana" eim? Parabéns...