sexta-feira, 7 de maio de 2010

Ninguem entende/gosta das minhas piadas

Ninguém mesmo.

***
Situação 1:

Professor ensinando culturas organizacionais integralizadas:

PROF: Então, gente, essa é uma empresa de cultura integralista.
EU (para o colega ao lado): Nossa! Quem é o CEO? Plínio Salgado? hohohooho
COLEGA: ??

***
Situação 2:

Colegas discutindo o que é ansiedade, quando...

EU: Ah, gente, peguem a HP12C aí e calculem o PV do medo! hihihihi
Outros: Idiotão.

***
Que triste.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Teórica da Coca-Cola


Já vi o Teórico do Tomate, agora vi situação semelhante. As ocorrências podem estar separadas uma da outra por 16 meses, mas a primeira deu-se no Master da Frei Caneca; a segunda, no Dia da Augusta. Ou seja, a uma quadra de distância uma da outra.

Então, estava eu na fila do Dia para pagar o leite que eu estava comprando quando o "casal" que estava na minha frente na fila (era um par de lésbicas) pagou com uma nota muito graúdo e o caixa não tinha troco. "Um minutinho só que eu já troco essa nota pra você" - disse o caixa. Contudo, no lugar de dar a nota pro caixa ir pegar cédulas menores, a fêmea-alfa interrompe o ato de passar a nota pro rapaz e ergue-a com sua mão esquerda enquanto declara: "Está vendo? Vivemos em função disso?!".

Pequena observação. Como eu sei que ela era a fêmea-alfa? Pelas roupas, pelo boné virado pra trás, pelas três argolas no nariz e por fazer os movimentos com a mão direita de "coçar" o que ali existiria caso houvesse nascido com um cromossomo Y.

Continuando; em seguinte, ela pára de "coçar", aponta para o dinheiro e olha para a fila to get the message out e repete com mais ênfase: "em função DISSO?!". E ainda que completa: "Que asco desse LIXO!".

O ambiente ficou um pouco estranho quando ela começou a se manifestar. Então, para descontrair eu - o próximo da fila - emendei logo após seu manifesto: "Concordo, moça. E como estou particularmente caridoso hoje, estou aceitando lixo alheio." O caixa riu. O tiozão atrás de mim riu. Mas ambos cessaram quando viram o olhar fuzilante que a moça do escroto bogus nos lançou. Por minha vez, fico irremediável quando estou de bom humor e ri baixinho de minha própria piada ("hehehe"). E à visão da reprovação da metida a comunista, não me agüentei ("HAHAHHAHAHAHAHA").

Troco recebido, ela e sua parceira foram embora resmungando "filhote do capitalismo" e "idiota consumista". Os demais eu não entendi. Só sei que eu verti lágrimas de riso quando o caixa correu atrás delas e alcançou-as na metade do estacionamento gritando "Moça! Moça! Esqueceu sua coca-cola!".







sábado, 27 de março de 2010

Professores conversa-mole


Curso administração, que é uma ciência humana. Infelizmente, ciências humanas não são conduzidas com seriedade, mas com um excessivo subjetivismo, dando espaço não apenas para a conversa mole, mas também para sua aclamação como insight brilhante oriunda do tipo observado “professor conversa-mole”. É sobre esse tipo que quero escrever hoje e compartilhar um pouco do que tenho observado nesses dois anos de faculdade.

O primeiro atributo que identifiquei como sendo do professor conversa-mole foi o apego à enrolação. Ensinando-nos teóricos daqui e dali sem que haja uma integração apropriada dos conhecimentos para o universo da administração, nós alunos terminamos por ser estudantes dotados de um oceano de conhecimento de poucos centímetros de profundidade. De que adianta? Nada! Mas os professores conversa-mole não estão bem interessados nisso, perseveram em seu colóquio acadêmico que somente acadêmicos conhecem. Há teorias que nos foram expostas até agora que, duvido muito, os grandes empresários do país conheçam. Que Eike Batista responderia se fosse indagado sobre suas impressões da obra de Vigotsky “A Formação Social da Mente”? Ou então, o que Marcel Telles diria sobre a “Carta da Felicidade” que Epicuro enviou a Meneceu? O argumento que freqüentemente ouço em defesa dessas matérias é que são “interessantes e importantes”. Se esse é o critério, gostaria que incluíssem gastronomia na grade curricular. Eu preferiria ter aulas de gastronomia a ler o que Vigotski e Epicuro escreveram. Quem sabe eu pararia de pedir pizza à noite e não somente economizaria dinheiro como também seria mais saudável? Fora que o índice de presença dos alunos às aulas de gastronomia certamente seria bem mais altos do que nas aulas de em que se trata de Vigotski e Epicuro.

Piadas à parte, suspeito que um grande empecilho impediria a gastronomia de entrar na grade curricular seria o seguinte: o professor teria de ter conhecimento real de sua matéria. Não daria para ele pedir aos alunos que fizessem uma roda e compartilhar seus defeitos e depois jogarem um novelo de lã um para o outro para que no fim todos tenham de sair do emaranhado formado como um grupo coeso. Não. A conversa mole não ia dar. O professor teria que pegar a espátula e botar a panela no fogo.

O segundo atributo do professor conversa-mole por excelência é que ele (supostamente) ensina o que nunca fez: administrar. Há professores tão antigos e há tanto tempo lecionando que fedem a academicismo; pior, academicismo enterrado nas páginas da história. Esqueceram que o mundo dos negócios avançou e MUITO, mas persistem em utilizar as técnicas que aprenderam décadas atrás. Suspeito que a última coisa que geriram foi suas mesadas. Olham para as teorias do fim do século XIX com desdém, mas tratam as do início do século XX como state-of-the-art. No próprio syllabus da matéria encontrei recomendação de sites que apresentavam teorias que suplantaram aquelas do início do século XX e provaram-nas um embuste. Mas lá estamos nós, com o professor ensinando como se ainda vivêssemos na época dos baby boomers. Um professor não está necessariamente desqualificado por ser de mais idade e nem uma teoria está definitivamente errada por datar de séculos atrás, mas cabe ao docente – qualquer que seja sua idade – atualizar-se para ver se ele não está nos apresentando carruagens em época de automóveis.

O terceiro atributo do professor conversa-mole por excelência é seu estilo de correção de provas e trabalhos. Normalmente, ele não usa a nota como instrumento de avaliação, mas como ferramenta punitiva. Alguns semestres atrás, quando um desses meus professore estava entregando provas corrigidas, ele parabenizou o aluno X por ter tirado uma excelente nota. Contudo, quando ele viu quem era o aluno X – um sujeito que costumava faltar aulas e dormir nas poucas em que ia – ele decidiu baixar-lhe a nota. Isso é uma estupidez sem tamanho! Se o rapaz conseguiu uma nota boa naquela prova ridícula de uma matéria mais ridícula ainda sem presenciar as aulas, que loas sejam entoadas não que ele seja punido! Que asco isso me dá. ASCO! Professor bizarro. Como um docente desse pode ser considerado um educador?

Em situação semelhante, havia outro professor. Ele não lia os trabalhos e dava nota 7 para todo mundo. Que outro resultado poderia advir dessa medida se não a mediocridade geral? Os humanos reagem a estímulos. Se independente do que eu fizer o avaliador sequer se dará ao trabalho de avaliar o que eu fiz, por que me esforçar? É inadmissível que preguiçosos medíocres desse jeito ensinem a tal da “futura elite política e empresarial do país” aplicando a lógica do funcionalismo público na supostamente melhor escola de negócios do Brasil. Para finalizar os tipos dentro do terceiro atributo, tem aquele que não corrige seu trabalho, mas sim põe numa balança para pesar o calhamaço que lhe foi dado. Para esse professor, dez páginas excelentes e concisas não são boas como trinta páginas prolixas. Por esse motivo, há uma língua paralela ao português lá na faculdade. Tal qual o latim, ela não é falada, mas escrita somente. Ela é conhecida por “bullshitagem”, mas o nome mais popular é “gevenês”. A língua consiste basicamente em utilizar o palavreado rebuscado e metido a acadêmico que os nada nobres professores usam. Fiquei de tal forma habilidoso que consigo transformar cinco linhas de conteúdo em seis parágrafos prolixos e confusos com ares de entendido no assunto. Ou seja, do jeito que os professore conversa-mole gostam.

O quarto atributo do professor conversa-mole é seu ego. Há aulas em que nós alunos ficamos desconfortáveis na sala por não haver espaço suficiente para nós e o ego do benedito. Após semestres e mais semestres discutindo com esses professores, decidi cessar e virar “aluno moita”. Mudei muitas de minhas idéias após ter entrado na faculdade e ter conhecido gente e pensamentos novos. Chama-se aprendizado. Mas esses professores não mudam. Pra que mudar? Se são confrontados, basta usar a chibata da nota. Eles já estão há mais tempo ensinando na faculdade do que Tom Bombadil cantando na Terra Média; logo, o que têm a temer? Aluno questionador é sarna pra se coçar! Enquanto isso, a faculdade vai nos forjando segundo sua cultura de grandes egos e nós alunos da instituição já temos a fama de arrogantes e metidos pelas escolas de negócios estado de São Paulo afora; fama e atitudes essas que têm contribuído para a escolha de profissionais provenientes de faculdades concorrentes na hora do emprego. Na Desciclopedia, dizem o seguinte sobre nós:

Diversos alunos ingressos das dependências da FGV conseguiram obter destaque nos negócios e na política brasileira, ajudando a construir a sociedade com modelos e atitudes. Romário da turma de 1985 resumiu brilhantemente como "Eu sou o cara"[1].

Esses quatro atributos foram os que pude observar até agora em minha faculdade. Certamente observarei ainda outros atributos e estou bem certo que onde estudo não é um caso único. Falo isso com tom de pesar e entristece-me a probabilidade que no Brasil afora a situação seja até pior. Enquanto isso, os professores conversa-mole fingem que ensinam; nós, que aprendemos e fica tudo como está.

PS: Em tempo, um dos docentes da FGV dá amostras do “espírito GV”.[2]

domingo, 28 de fevereiro de 2010

E a vida continua

Aulas recomeçam, revejo amigos e, principalmente, visito a patroa e recebo cafunés da patroa (após os quais durmo o sono dos justos).

Sabiam que existe vida após a Costa do Marfim? Engraçado como algo que deveria ser apenas um parêntese me marcou tanto. De qualquer forma, faculdade volta a ocupar a maior parte das horas da minha semana. Novas preocupações (leia-se, Finanças Corporativas I, com o Malvessi), novos desafios e planos pro futuro.

A pedido da AIESEC na FGV-SP, fiz um pequeno texto em que escrevi o "finalmente" da viagem. Valeu a pena? Recomendo? Segue abaixo o que escrevi no blog da AIESEC-FGV.

abraços a todos!!

"Hey AIESEC!! Agora vocês: What's up! (infame, hehe)

Garotada que quer fazer intercâmbio pela AIESEC, recomendo que façam!

O meu intercâmbio, como dito no título, foi para a cidade de Abidjan, maior e mais importante cidade da Costa do Marfim. Fiz um MT (Management Traineeship), que é o intercâmbio de gestão da AIESEC.

Eu trabalhei numa empresa chamada AFCO Sarl, que faz uma espécie de serviço postal (como os correios do governo são muito precários, as empresas privadas atendem a essa demanda). Lá, tive de aprender a me virar com recursos quase zero. Apesar da dificuldade, devo dizer que foi um verdadeiro exercício de oratória convencer o chefe a mandar imprimir cartões de visita, convecê-lo da necessidade de um portfolio de vendas e de me prover acesso à internet(!). Podem parecer obviedades para nós, mas acreditem: é muito difícil convencer alguém do óbvio! No fim das contas, conseguimos os cartões e desenvolvi o portfolio de vendas.

Além disso, como parte do nosso plano de comunicação externa, desenvolvemos o letreiro da empresa para pôr na entrada do prédio e calendários da AFCO para dar para outras empresas. Foi interessante estagiar em uma empresa tão primitiva, pois sou um aluno que sequer completou metade do curso de administração ainda, dessa forma, pude botar em prática realmente as bases do que aprendi nas disciplinas de marketing.

No mais, pude aprender muito de uma cultura muito diferente da nossa. Já fiz intercâmbios na Argentina, nos EUA e no Canadá. Apesar de haver diferenças entre esses países e o Brasil, ainda estamos todos no mundo ocidental. A Costa do Marfim, por outro lado, não tem NADA de ocidental. Os próprios pilares que servem de alicerces à cultura marfinense são diferentes dos nossos. Lidar com pessoas dessa cultura foi um verdadeiro desafio e um grande aprendizado.

Para finalizar sobre minha experiência, devo dizer que nunca comi comida tão doida! Vocês já comeram rato do mato (agoutie)? Eu já! Já quase engasgaram com a bolinha de chumbo que caçou o bicho? Eu já!

Não dá para contar tudo que eu vivi nesse post. Foi muita coisa! Quem estiver interessado em saber mais, sinta-se à vontade para visitar meu blog! Lá registrei quase toda a minha viagem em 27 relatos diferentes.

Em suma, gente: esqueçam estágio e não se preocupem em atrasar sua formação, façam intercâmbio! Experiência enriquecedora e muito recompensadora!

Abraços a todos e fiquem com Deus!"

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Registro de Viagem à Costa do Marfim: Relato XXVII - Último Relato

Registro de Viagem: Costa do Marfim

Relato XXVII – Volta Antecipada – 14 a 19 de Fevereiro

Acabou. Estou em São Paulo, onde, apesar dos pesares, não tenho que me preocupar com policiais munidos de AK-47 me extorquindo propina nem muito menos com a ameaça de guerra civil.

Sei que demorei a escrever esse post que fecha o relato de minha experiência do outro lado do oceano, mas vocês devem me entender. Cheguei ao meu flat em São Paulo tarde da noite e exausto. Cedo do dia seguinte, parti para ver minha digníssima. Inclusive, foi agora durante a semana do carnaval que fiz aniversário de três anos de namoro com a futura mãe dos meus filhos. Então, numa semana com uma data especial, sem aulas, com o tão esperado cafuné e a massagem no pé, realmente me faltou estímulo para sair da ternura da minha Lili para vir aqui escrever algo sobre a viagem. Mas aqui vamos nós.

Consegui sair do aeroporto Felix Houphouet Boigny, em Abdijan, no vôo da Air France das 23h após um check-in extremamente irritante. A tal da “hospitalidade marfinense” é o segundo maior mito do país, atrás apenas do lema nacional: “União, Disciplina e Trabalho”. A moça dos raios-X ficou com um meu desodorante (que não excedia os 100 ml permitidos), levou embora o meu creme de barbear e – isso foi o que irritou – queria levar minha câmera também. Após muita discussão, acabaram não fazendo nada. Não obstante, chegou uma hora em que o francês carregado de sotaque tribal daquela mulher quase impossibilitou nossa discussão e perguntei se ela falava inglês, ao que ela respondeu de forma irada e escandalosa que aquele era o país dela e eu que aprendesse o francês. Já vi bastante desse tipo de gente nos aeroportos brasileiros. Funcionários rudes que maltratam o visitante estrangeiro e alicerçam seu comportamento num nacionalismo estúpido (redundância) e num patético orgulho de sua própria ignorância. Depois dessa, sabendo que não há lei nessa terra ridícula, paguei-lhe 5000 francos para que não mais direcionasse a palavra a mim e me deixasse em paz com minha câmera.

Duas coisas interessantes sobre os marfinenses (e sobre os outros africanos que conheci também). Primeiramente, qualquer mínima autoridade que lhes é dada é usada invariavelmente para explorar outra pessoa. Seja o guarda com seu fuzil kalashnikov na rua, seja o motorista do táxi com o passageiro, seja um mestre com seu aprendia, seja a mulher da segurança do aeroporto. Eles funcionam na base “se consigo, devo”. Se tenho meios para roubar, roubarei. Se tenho meios para burlar, burlarei. São escravos duma vontade sádica de fazer o mal aos outros. A segunda coisa é uma conseqüência da mesquinhez dessas pessoas, elas se vendem por quase nada. Os funcionários na AFCO vendiam informações nossas para a concorrência a preço de banana, os soldados na rua deixam os outros em paz por 500 francos (se for da mesma etnia), 1000 francos (se for branco) e 2000 (se for de etnia diferente). Se há algo que aprendi nessa minha experiência, foi exatamente como não ser, agir e pensar.

Embarquei no vôo para Paris cansado, suado e com uma sensação de incômodo que somente se foi quando a aeronave deixou o solo. O vôo foi bem tranqüilo, mas dormi muito pouco. A única parte realmente ruim foi que minha poltrona era a 48L, ou seja, a última do lado oposto ao da porta de entrada e saída, o que significava que meu desembarque em Paris seria somente após os numerosos africanos recolherem suas inúmeras e imensas bagagens de mão. Não sei como o pessoal conseguiu fazer aquelas malas todas serem aceitas como bagagem de mão.

Chegamos a Paris no dia 14 um pouco antes das 06h, estava 0ºC. Eu havia esquecido completamente que era inverno na Europa, aí nem me preocupei em levar casaco. Assim, eu trajava apenas uma leve camiseta branca. O único vôo que chega a essa hora daquele terminal era o procedente de Abidjan. Então, todo mundo das lojas que já se encontravam abertas sabiam que todos nós vínhamos do país cujo presidente havia dado um golpe no dia anterior e olhavam-nos com curiosidade e alguns faziam perguntas sobre a situação no país. De qualquer forma, tratei logo de ir ao freeshop do Charles de Gaulle comprar uns presentes. Essa foi engraçada, pois quando eu disse pra mulher da loja que queria um presente para minha namorada e ela me viu com camiseta leve, chapéu, barba por fazer e semblante bem cansado, ela deve me ter associado a algum tipo de explorador da África muito endinheirado, pois a tia veio logo me mostrar com um largo sorriso de “é hoje que minha comissão decola!” jóias nos singelos valores de 2000 euro. Desci a vendedora pra realidade e comprei umas coisinhas beeeeeeeeeeeem mais humildes.

Foi chegando a hora de embarcar pro vôo ao Rio de Janeiro e comecei a escutar um zumbido familiar. O zumbido revelou-se chiado e conheci um sem número de cariocas. Cada um contava sobre seus destinos procedentes: China, Indonésia, Alemanha, Rússia e tal. Contei um pouco sobre a Costa do Marfim e perguntaram se meus pais tinham aprovado a idéia. Hahaha
O vôo pro Rio foi bem melhor, apesar de ser durante o dia e ser um vôo bem longo. Assisti Friends e os Simpsons até não agüentar mais. Fiz amizade com as crianças de uma família francesa que iam passar uma temporada no Rio. Moleques silenciosos e bem educados que diziam “obrigado” pra tudo e me desejavam “bon apetit” sempre que eu ía comer alguma coisa. Só o filho do meio, Hugo, era meio alterado e ficava socando a cadeira da frente enquanto assistia aos filmes de ação disponíveis no catálogo da Air France. Chegando ao Rio, peguei as malas, despachei-as na TAM e cheguei.

Bem, essa foi a jornada de volta. Enquanto isso, em Abidjan, a oposição fez alguns protestos menores, que foram devidamente dispersados pelo governo. Como a mídia é dominada pelo presidente, não se sabe ao certo o que é verdade e o que é mentira. Eu sei, contudo, que o site abidjan.net é a fonte de informações preferidas dos franceses e dos libaneses e, por encontrar notícias sobre a oposição lá, imagino que seja o meio mais próximo da parcialidade. Publicaram a declaração da coalizão de oposição que a autoridade do presidente atual não é mais formalmente reconhecida, o pedido para os ativistas dos partidos manterem-se fiéis às novas diretrizes e a conclamação para as forças armadas do país a não sucumbirem ante a “ilegitimidade”. Só sei que estou feliz por ter saído de lá.

E com esse post, termino meus relatos. Não achei que chegaria aos 27, mas eis que chegou!

Agradeço aos meus pais, minha namorada e minha irmã pelo apoio. Agradeço ao restante da família e aos irmãos pelas orações. Agradeço ao escritório da AIESEC na FGV-SP pelas orientações. Agradeço também a magnífica demonstração de hospitalidade da família Mourtada na Costa do Marfim. Acima de tudo, agradeço a Deus por ter me mantido seguro e saudável num país perigoso e cheio de doenças.

Deus os guarde como Ele guardou a mim.

« Sachez que l'Éternel est Dieu! C'est lui qui nous a faits, et nous lui appartenons; Nous sommes son peuple, et le troupeau de son pâturage. » Psaume 100 :3

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Registro de Viagem à Costa do Marfim: Relato XXVI - Partida antecipada

Registro de Viagem: Costa do Marfim

Relato XXVI – Volta Antecipada – 13 de Fevereiro

Voltei agora do aeroporto e consegui adiantar meu voo do proximo sabado para sabado hoje. Saio as 22h45 GMT e chego em Paris as 06h GMT. Saio de la as 10h30, chego no RJ e a TAM me leva pra SP e desco por la as 23h00 do horario local. Gracas a Deus deu certo!

Hoje, fui informado que os libaneses estavam pensando em levar meus colegas estrangeiros para a praia da semana passada. Meu “irmao” Abbas ligou agora mesmo pedindo o telefone do pessoal para desmarcar porque os libaneses que iam estao desistindo da viagem por causa da situacao politica. O estranho e que parece que nao ha nada de errado com o pais. Todo mundo na rua, todos os negocios abertos etc. Contudo, os que ja habitam aqui ha decadas sabem que e sempre assim. Ate um colega que se encontra no momento nos EUA comentou em tom de piada: “nao fomos pra praia porque o presidente deu um golpe de estado”. Estranho? Nao, realidade daqui.

Duma hora pra outra, a situacao muda completamente. Foi assim no golpe de deposicao do ex-presidente Bedie, que inclusive quer se candidatar contra o Gbagbo (se houver eleicoes, claro, pois a Comissao Eleitoral Independente foi dissolvida ontem juntamente com o governo), em 1999. Ninguem esperava nada e o exercito o depos no natal do mesmo ano. Sempre me disseram que aqui reinava a paz fragil, a paz inconstante. Embora tenha estudado a historia desse pais, eu nunca havia sentido realmente o que isso significava ate hoje.

Mas minha simbolica vinganca ja tomou lugar. Nao, nao falo do miseravel rato que encontrou um triste fim. Falo que hoje no aeroporto eu troquei meus francos por Euro com cambistas do mercado negro. Ha apenas um banco no aeroporto, o Banque Atlantique, que e de um ladrao safado que foi politico aqui e hoje, de alguma forma, ele e dono de muitas empresas e virou multimilionario. Fazendo a operacao com o mercado negro, nao somente ganhei 20% a mais, como tambem nao paguei comissao pra um ladrao e nem paguei o imposto que o presidente assassino vai usar pra comprar municao. Sei que nao sera muito dano, mas me regozijo em dizer que tres municoes a menos de AK-47 serao disparadas numa eventual guerra por minha causa.

Que Deus salve esse pais. Se Ele nao fizer, ninguem mais o fara.

« Heureuse la nation dont Yahweh est le Dieu, heureux le peuple qu'il a choisi pour son héritage! » Psaume 33 :12

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Registro de Viagem à Costa do Marfim: Relato XXV - Pronunciamento do Presidente

Registro de Viagem: Costa do Marfim

Relato XXIV – O Pronunciamento do Presidente – 12 de Fevereiro

Meu esperado mochilao para Gana, Togo e Benin esta provisoriamente cancelado. Isso e o menor dos males. Hoje a noite as 20h00 (daqui a meia hora), o president Laurent Gbagbo fara um pronunciamento e ninguem sabe qual sera a reacao popular apos isso. Um dos chefes da policia amigo de minha familia anfitria pediu para que estivessemos devidamente trancados em casa antes das 20h.

Sabendo disso, avisei a todos os demais intercambistas da AIESEC e estamos no aguardo. Ninguem tem informacao concreta sobre nada. Ninguem sabe o que pode acontecer depois, quanto tempo pode durar ou ate se vai acontecer algo. Ha a chance de todos nos estarmos nos preocupando em vao. Contudo, o fato de os corpos diplomaticos de alguns paises ja terem sido devidamente evacuados para o QG da ONU diz alguma coisa. So podemos esperar para que os acontecimentos de 2004 nao se repitam.

Orem por nos.

« Quand je marche dans la vallée de l'ombre de la mort, Je ne crains aucun mal, car tu es avec moi: Ta houlette et ton bâton me rassurent. » Psaume 23 :4